O texto a seguir trata de uma curiosidade um tanto mórbida. Em 1990 o então líder iraquiano, Saddam Hussein, contratou um calígrafo para fazer uma cópia do Alcorão, usando seu próprio sangue como tinta. Para o projeto, Saddam doou 27 litros de sangue ao longo de dois anos; o tempo que levou para o livro ser concluído. O livro ainda existe e ninguém sabe o que fazer com ele.
Por agora, o Alcorão de sangue de Saddam está sendo mantido atrás de portas trancadas em Bagdá. O livro incomum é ao mesmo tempo sagrado e profano, então os funcionários públicos mantenedores da obra estão bastante inseguros quanto à forma de lidar com ele. Clérigos islâmicos também estão confusos sobre esta decisão, não sabem se devem destruir o livro ou preservá-lo como uma lembrança da brutalidade do ditador. É muito provável que Saddam estivesse bastante ciente da controvérsia que seu projeto iria vomitar, dado os tabus na cultura islâmica sobre fluidos corporais humanos, mas ele foi em frente com ele de qualquer maneira. Suas intenções eram bem claras e até chegou a dizer certa vez que o livro era seu tributo a Deus, porque seu filho havia sobrevivido a uma tentativa de assassinato.
O que é assustador sobre a cópia deste Alcorão não é tanto porque está escrito com sangue, mas sim porque o sangue usado é humano. De acordo com Bruno Pouliot, professor de conservação da arte na Universidade de Delaware, o sangue é um meio muito comum utilizado na pintura.
"O sangue de boi é uma das formas mais antigas, e uma forma muito estável, na verdade, de tinta. A polêmica toda reside no fato de que o artefato foi realmente feito com o sangue de um ser humano".
O que diferencia as coisas que envolvem restos mortais humanos é que elas estão sempre cobertas de uma aura controversa. Não se sabe se o livro suscita muito simbolismo, isto é, se o povo pensa que o espírito de Saddam sobrevive através do objeto, e isso poderia resultar em um grande e perigoso fanatismo. Mas ninguém duvida que se não for destruído, o livro vai durar muito muito tempo. Acontece que o sangue humano é uma das manchas mais difíceis de serem removidas, já que, uma vez depois que seca, forma uma película sólida. Ou seja, preservação não vai ser um grande problema, é só mantê-lo como qualquer outro livro.
Durante o curso deste projeto, Saddam doou mais sangue do que a média dos doadores fariam por toda vida. Os 27 litros doados por ele representariam 5 vezes mais do que todo o sangue que tinha no corpo. No Brasil, em média, um doador de sangue pode se submeter ao ato de coleta de sangue quatro vezes ao ano, quando é retirado um volume que varia de 400 à 450 ml de sangue no total. Somando: a gente pode doar entre 1.600 ml à 1.800 ml de sangue por ano. Neste ritmo Saddam levaria ao menos 15 anos para doar todo o sangue para o seu Alcorão. Especialistas dizem que, se este número estiver de fato correto, a velocidade com que doou seu sangue deve tê-lo deixado com anemia profunda. Bem, ao que parece, Saddam estava com pressa para deixar a sua marca no mundo.
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