Edgar Allan Poe. ©uso publico
Não são poucos os escritores cuja existência trágica acabou por engendrar uma visão de mundo peculiar, profunda e cínica. Edgar Allan Poe, nascido em Boston, Massachussets, em 1809, foi um caso emblemático. Viveu pouco – morreu aos 40 anos de idade – mas intensamente.
Em suas próprias palavras, sua vida foi movida por “caprichos impulsos, paixões, desejo de solidão, desprezo pelo presente e um anseio sincero pelo futuro”.
Durante uma curta passagem pelo exército para pagar dívidas de jogo, Poe iniciou sua carreira literária escrevendo poesias como “O corvo”, obra que lhe rendeu fama, apesar das duras críticas à sua qualidade literária. Também foi autor de ensaios, novelas, críticas e contos, este último, o gênero no qual obteve maior reconhecimento, sobretudo com histórias de detetive, relatos de viagens e contos de terror.
Muitas de suas histórias sombrias têm um viés autobiográfico. O pai de Poe abandonou a família, sua mãe faleceu quando ele ainda era criança e ele foi adotado por um comerciante chamado Allan, descendente de ciganos e vendedor de escravos e cadáveres.
Graças ao contato com os escravos africanos, Poe conheceu os rituais do vodu e magia negra, tão presentes em suas histórias. Outro tema recorrente em sua obra é a guerra, vivenciada durante os anos como soldado.
Poe foi um dos primeiros escritores dos Estados Unidos a tentar sobreviver de sua arte. Suas histórias curtas eram publicadas em jornais da época e muitas vezes se baseavam em notícias reais.
Outro episódio que transparece na obra de Poe é a morte precoce de sua esposa Virginia Clemm, uma prima com quem se casou quando ela tinha apenas treze anos de idade. A figura da “mulher morta” é constante em seus escritos, seja como fantasmas, espectros ou mulheres diabólicas.
A rigor, o “terror” de Poe deveria se chamar “gótico”, já que se alinha ao estilo dos autores românticos alemães, que exploram temas como a morte, a magia negra, espíritos e ressurreição, sempre explicados de maneira lógica e verossímil. Na maioria das histórias do autor, o horror é fruto das ações humanas. Esoterismo, racionalismo, criptologia, religiões ocultas e rituais também estão presentes em sua obra.
Poe viveu como um boêmio e morreu em 1849, de causas desconhecidas. Alguns atribuem sua morte ao alcoolismo, drogas, sífilis, raiva e cólera. O único fato comprovado é que o autor foi encontrado delirando pelas ruas, e dias depois, faleceu em hospital.
O LEGADO DE POE
James Russel Iowell, colega de Poe, definiu-o como “o crítico mais exigente, filosófico e sem medo de escrever histórias fantásticas dos Estados Unidos”. A literatura de Edgar Allan Poe inspirou autores de histórias de detetive, como Arthur Conan Doyle – o criador de Sherlock Holmes -; de ficção científica, como Julio Verne, H.G. Wells, H.P. Lovecraft e Ray Bradbury; e também mestres latino-americanos do realismo fantástico, como Julio Cortázar e Jorge Luis Borges.
A obra de Poe transcendeu a literatura e influenciou pintores como Odilon Redon, Paul Gaughin e Salvador Dali; quadrinistas como Neil Gailman e Alan Moore, e cineastas como Alfred Hitchcock e Roger Corman. Este último dirigiu Vincent Price em adaptações cinematográficas de histórias de Poe, como “O Solar Maldito (1960)”, “A mansão do terror”(1961), “Muralhas do pavor” (1962), “O corvo” (1963), “A máscara mortal”(1964) e “O túmulo sinistro (1965)”.
CINCO CONTOS DE TERROR IMPERDÍVEIS
Em homenagem a Poe, listamos cinco contos de terror que todo amante da literatura precisa conhecer:
A queda da Casa de Usher: Um amigo de infância de Roderick Usher – artista doente e excêntrico – visita-o na antiga mansão da família, onde também vive a irmã de Roderick, Lady Madeline, de saúde frágil. Sob o ponto de vista do visitante, desenrola-se uma história de suspense e incesto repleta de tensão, com um desfecho trágico.
O gato preto: Um exemplo claro da maestria de Poe, que consegue construir uma narrativa assustadora com três personagens corriqueiros (um homem, uma mulher e um gato).
Talvez inspirado-se na própria vida, Poe narra a decadência de um homem que se entrega à bebida e chega ao fundo do poço.
O coração delator: Um jovem, um idoso e um assassinato constroem este clássico da literatura gótica. Segundo o escritor Robert Louis Stevenson, este conto “caminha delicadamente na linha tênue entre a sanidade e a loucura”, considerando-o uma importante contribuição para a psicologia mórbida.
Os assassinatos da Rua Morgue: Publicado em 1841, é considerado o primeiro relato de detetives da história da literatura, pois já apresenta todos os elementos que mais tarde consagrariam o estilo. O conto narra o brutal assassinato de duas mulheres, mãe e filha, em Paris. O detetive August Dupin, personagem emblemático da obra de Poe, é chamado para solucionar os mistérios que a polícia não consegue desvendar.
A carta roubada: Um conto que demonstra a habilidade de Poe de criar uma história absorvente sem assassinatos nem elementos aterrorizantes. Uma carta desapareceu, e apesar de saberem quem a furtou, não há pistas de seu paradeiro. Novamente, a polícia conta com a astúcia do detetive Dupin para solucionar o mistério. O conto propõe um jogo de deduções dinâmico e inigualável.
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