A Globalização da Pobreza e a Nova Ordem Mundial - Obscura Verdade

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29 de jun. de 2013

A Globalização da Pobreza e a Nova Ordem Mundial


Prof. Michel Chossudovsky

Tradução Anna Malm* - Correspondente de Pátria Latina na Europa 

Na segunda edição expandida do “best-seller” de Michel Chossudovsky “A Globalização da Pobreza e a Nova Ordem Mundial” , o autor delineia os contornos da Nova Ordem Mundial que alimenta a pobreza humana, a destruição do meio-ambiente, que gera a segregação social, que encoraja o racismo e as convulsões étnicas, assim como minera o direito das mulheres.

 O resultado, como os seus detalhados exemplos de todas as partes do mundo mostram convincentemente, é a globalização da pobreza. Esse livro é uma habilidosa combinação de lúcida explicação e persuasivamente argumentada crítica das direções fundamentais as quais o nosso mundo está se dirigindo econômica e financeiramente.


Na expandida segunda edição, o autor passa em revista as causas e consequências da Fome no sub-Saara da África, a dramática fundição dos mercados financeiros, a destruição dos programas sociais do estado e os resultados devastadores da liberalização do comércio (corporation downsizing and trade liberalisation).
“Esse conciso e provocativo livro revela os efeitos negativos das impostas reformas econômicas estruturais, da privatização assim como do desregulamento e competição. Ele merece ser lido abrangente e cuidadosamente” – Escolha, American Library Association (ALA)

“O sistema atual, argumenta Chossudovsky, é um de criação de capital através de destruição. O autor confronta de frente os elos entre violência civil, a tensão social, e a pressão sobre o meio ambiente em relação as modalidades de expansão de mercados.” – Michele Stoddard, Coverty Action Quarterly.

Prefácio da Segunda Edição

Poucas semanas após o golpe militar no Chile em 11 de setembro de 1973 que derrubou o governo eleito do Presidente Salvador Allende, a junta militar dirigida pelo General Augusto Pinochet deu ordens para um aumento do preço do pão de 11 para 40 escudos, sendo que esse era então um aumento de 264%. Esse implementado tratamento de choque econômico tinha sido projetado por um grupo de economistas denominados “Os Meninos de Chicago” – the “Chicago Boys”. 

Na época do golpe militar eu estava lecionando no Instituto de Economia da Universidade Católica do Chile, que era um ninho vespeiro de economistas treinados em ou por Chicago, sendo então discípulos de Milton Friedman. Nesse 11 de setembro, nas horas que seguiram aos bombardeamentos do Palácio Presidencial La Moneda, a nova junta militar impôs uma proibição de saída de civís pelas ruas da cidade, por 72 horas. Quando a universidade reabriu vários dias mais tarde, os “Meninos de Chicago” – the “Chicago Boys” estavam muito deleitados e alegres. Assim também foi que poucas semanas mais tarde vários dos meus colegas da Faculdade de Economia foram nomeados para posições-chave no governo militar.

Enquanto os preços dos alimentos estavam sofrendo aumentos vertiginosos, os salários tinham ficado congelados para garantir “estabilidade econômica e controle das pressões inflacionárias”. De um dia para o outro, um país tinha sido precipitado numa pobreza abismal: em menos de um ano o preço do pão no Chile aumentou trinta-e-seis vezes, enquanto 85% da população do país foi arrastada para abaixo da linha determinando uma condição de pobreza.

Esses acontecimentos me afetaram profundamente como economista. Através de manipulações de preços, salários e estipulações de taxas de juros as vidas de inúmeras pessoas tinham sido destruidas. Eu comecei então a entender que reformas macro-econômicas não eram nem “neutrais” como dito pelos acadêmicos da tropa central, nem separadas do mais abrangente processo de transformação político-social. Em meus estudos da junta militar chilena eu vi então o chamado “mercado livre” –free market” como um muito bem organizado instrumento de “repressão econômica”.

Dois anos mais tarde, em 1976, eu retornei à América Latina como Professor Convidado da Universidade Nacional de Córdoba, no coração industrial do norte da Argentina. A minha estadia coincidiu com um outro golpe de estado. Dezenas de milhares de pessoas foram presas e os “Desaparecidos” foram assassinados. A tomada militar da Argentina foi uma “cópia-carbono” do golpe dirigido pela CIA no Chile. Além dos massacres e violações dos direitos humanos, reformas de “mercado-livre” também foram prescritas – agora abaixo da supervisão dos credores de Nova Iorque na Argentina.
As prescrições mortais do FMI- Fundo Monetário Internacional, IMF na sigla inglesa, e aplicadas abaixo do disfarce de “programa de ajustamento estrutural” ainda não tinham sido oficialmente deslanchadas. As experiências do Chile e da Argentina abaixo dos “Meninos de Chicago” eram um ensaio geral do que estava para vir. No devido tempo as balas do sistema de mercado livre estavam atingindo país após país. Desde do ataque da crise do débito de 1980, a mesma medicina do Fundo Monetário Internacional, FMI, tem sido repentida e de maneira rotineira, medicina essa então que foi finalmente aplicada em mais de 150 países em desenvolvimento.

Eu já tinha começado a investigar os impáctos globais dessas reformas desde os meus trabalhos no Chile, Argentina e Perú constatando então que essas reformas estavam incansávelmente alimentando a pobreza e a deslocação econômica. O que se via era que a Nova Ordem Mundial estava tomando forma.
Depois, tendo o tempo decorrido, a maioria dos regimes militares da América Latina foram substituidos por “democracias” parlamentares encarregadas com a horrível tarefa de pôr as economias nacionais na mesa do leilão, o que foi feito abaixo do progama de privatização patrocinado pelo Banco Mundial.
Em 1990 eu retornei à Universidade Católica do Perú onde eu tinha lecionado depois de sair do Chile nos meses que seguiram o golpe militar de 1973.

Eu cheguei em Lima no auge da campanha eleitoral de 1990. A economia do país estava em crise. O governo populista do Presidente Alan Garcia tinha sido posto na lista negra do Fundo Monetário Internacional. Alberto Fujimori foi eleito como Presidente em 28 de julho de 1990. Poucos dias depois a economia da “terapia de choque” começou – dessa vez com uma boa dose de vingança. Perú foi castigado por não ter se conformado com os ditados do Fundo Monetário Internacional: o preço do combustível foi aumentado o equivalente a 31 vezes, e o preço do pão aumentou mais do que 12 vezes num único dia. O Fundo Monetário Internacional em íntima ligação com o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos esteve agindo por detrás dos bastidores. Essas reformas – implementadas no nome da “democracia” – foram muito mais devastadoras do que as que foram aplicadas no Chile e na Argentina durante os regimes militares.

Eu viajei muito por toda a África nos anos de 1980 e 1990. A pesquisa de campo que fiz para a primeira edição desse livro começou na Ruanda que apesar dos altos níveis de pobreza, tinha conseguido uma auto-suficiência na produção alimentar. A partir do começo de 1990 Ruanda começou a ser destruida como uma economia nacional em funcionamento, e seu vibrante sistema agrícola foi destabilizado. O Fundo Monetário Internacional tinha exigido “a abertura” do mercado doméstico para que os Estados Unidos e a União Européia pudessem se desfazer dos seus cereais em sobra. O objetivo foi apresentado como “encorajamento para que os agricultores de Ruanda fossem mais competitivos” (Veja Capítulo 7.) 
De 1992 a 1995 eu fiz pesquisa de campo na Índia, em Bangladesh e no Vietnam. Depois retornei a América Latina para completar meu estudo do Brasil. Em todos os países que visitei, incluindo Kênia, Nigéria, Egito, Marrocos e Filipinas, eu observei o mesmo padrão de manipulação econômica e interferência política por instituições baseadas em Washington.

Na Índia como resultado direto das reformas do Fundo Monetário Internacional milhões de pessoas foram levadas a fome. No Vietnam – que se encontrava entre entre os mais prósperos produtores de arroz – a fome explodiu em erupçãocomo resultado direto da tirada dos controles de preço, e do desregulamento do mercado de cereais.

Coincidindo com o fim da Guerra Fria e no auge da crise econômica eu viajei a várias cidades e áreas rurais da Rússia. As reformas patrocinadas pelo Fundo Monetário Internacional tinham entrado numa nova fase – extendendo seu abraço mortal aos países da ex União Soviética. Do Báltico as fronteiras da Rússia, no leste da Sibéria, as regiões foram jogadas numa pobreza abismal. 

O meu trabalho com a primeira edição desse livro foi concluido em 1996, com a inclusão de um detalhado estudo da desintegração econômica da Yugoslávia. (Veja Capítulo 17.) Criado por economistas do Banco Mundial, um “sistema de bancarrota e falência” foi posto em ação na Yugoslávia. Em 1989-90, cerca de 11.00 firmas industriais foram destruidas, sendo que mais de que 614.000 trabalhadores industriais foram despedidos. E isso tinha sido só o começo de muito mais profundas fracturas da Federação Yugoslava.
Desde a publicação da primeira edição do livro em 1997, o mundo tem se transformado dramaticamente. A “globalização da pobreza” extende agora suas garras a todas as maiores regiões do mundo, incluindo a Europa Ocidental e a América do Norte.

A Nova Ordem Mundial tem sido instalada sobre a destruição da soberanidade nacional e dos direitos civís dos cidadãos. Abaixo das novas ordens da Organização do Comércio Mundial – World Trade Organization, WTO na sigla inglesa, estabelecida em 1995, “direitos fortalecidos e entrincheirados” foram garantidos aos maiores bancos mundiais, e aos conglomerados multinacionais. O débito público entrou num sistema de aceleração ficando cada vez mais volumoso, sendo que instituições estatais entraram em colápso enquanto a acumulação da riqueza continuava sua marcha implacavel. 

As guerras dos Estados Unidos no Afeganistão (2001) e Iraque (2003), marcam um importante ponto no desenrolar da Nova Ordem Mundial. De quando a segunda edição do livro ia para as máquinas impressoras, as forças americanas e da Grã-Bretanha estavam a invadir o Iraque, destruindo a infraestrutura, pública, do país assim como matando milhares de civís. Depois de 13 anos de sanções econômicas a guerra do Iraque acabou por jogar toda a população do país na miséria.

Guerra e globalização vão juntas e unidas. Apoiadas pela maquinaria de guerra dos Estados Unidos uma nova e mortal fase da globalização dirigida pelas empresas e corporações multinacionais se desdobra. Na maior demonstração de força desde a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos vem embarcando numa aventura militar que está ameaçando o futuro da humanidade.

A decisão de invadir o Iraque não tinha nada a ver com “armas de destruição massiva” de Saddan Hussein ou com alegados elos do país com a Al Qaeda. Iraque possui 11% das reservas de petróleo do mundo, ou seja, cinco vezes mais do que os Estados Unidos. O grande Médio Oriente e a região da Ásia Central (indo da ponta da península árabe até o mar Cáspio) abrangem aproximadamente 70% das reservas de petróleo e gás natural do mundo.

Essa guerra que tinha estado em estado de planejamento por muitos anos ameaça agora a engolir uma região muito maior. Um documento do U.S. Central Comando confirma que “o objetivo da engrenagem da maquinaria de guerra americana...é o de proteger os interesses americanos vitais na região – e o assegurar, sem interrupções, aos EUA/Aliados o acesso ao petróleo do Golfo”.

Como uma das consequências da invasão, a economia do Iraque foi posta abaixo da jurisdição do governo da ocupação militar dos Estados Unidos dirigido pelo aposentado General Jay Gardner, um ex-diretor executivo de um dos maiores produtores de armas americanas.

Em ligação com a administração dos Estados Unidos e do Clube de credores oficiais de Paris, o FMI, Fundo Monetário Internacinal e o Banco Mundial estiveram programados para fazer um papel principal na “reconstrução do Iraque pós-guerra”. A encoberta ordem de trabalho era a de impor o dólar como moeda substituta no Iraque, esse seria um arranjo de moeda similar ao imposto a Bósnia-Herzegóvina durante o acordo Dayton, de 1995 (Veja Capítulo 17.) Em seu turno, as extensivas reservas de petróleo do Iraque estavam programadas a serem apropriadas pelos gigantes do petróleo anglo-americano.

O débito externo do Iraque quando disparado pode ser usado como instrumento de pilhagem. Condições apresentaram-se. Toda a economia nas mesas dos leiloeiros. O Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial foram então chamados para dar legitimidade ao saque das riquezas petrolíferas do Iraque.
A colocação da máquina de guerra dos Estados Unidos tem o objetivo de alargar a esfera de influência econômica dos mesmos numa área indo do Mediterrâneo a fronteira do oeste da China. Os Estados Unidos estabeleceram uma presença militar permanente não só no Iraque como no Afeganistão, mas também através de bases militares em várias repúblicas da ex União Soviética. Em outras palavras, a militarização apoia a conquista de novas fronteiras econômicas e a imposição do sistema de “mercado livre”-“free market”, com a força militar.

Depressão Global

O ataque de guerra liderado pelos Estados Unidos está ocorrendo no auge da depressão econômica global, a qual tem suas raízes históricas no começo dos anos de 1980. As guerras de conquista dos Estados Unidos tem uma direta relação com as crises econômicas. Os recursos do estado nos Estados Unidos foram redirigidos para financiar o complexo industrial-militar e fortalecer o sistema de segurança nacional, as custas da financialização dos muitos necessários programas sociais, os quais foram talhados e cortados, até ao próprio osso.

Nas ondas dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001 e através de uma propaganda massiva, a recalcitrante legitimidade do “sistema global de mercado livre” foi reinforçada o que abriu então as portas para uma renovada onda de desregulamento e privatização, resultando na apropriação da maioria, se não de todos, os serviços públicos, e da infraestrutura estatal (incluindo-se aqui o sistema de saúde, eletricidade, água e transporte).

Ainda mais, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha assim como em muitos países da União Européia, a estrutura jurídica da sociedade foi também vítima de pilhagem. Baseado no cancelamento do Governo do Direito e da Lei, os fundamentos para um aparato autoritário estatal foram emergindo com pouca, ou nenhuma, oposição organizada pelas pessoas constituindo a sociedade civil.
Os novos capítulos aderidos a essa segunda edição examinam algumas das quetões chave do século 21: aumento das fusões e a concentração do poder das empresas e corporações, o colápso das economias nos planos locais e nacionais, a fundição dos mercados financeiros, o surto da fome, as guerras civís, assim como o desmantelar dos Estados Prósperos de Bem-Estar Social (Welfare States) na maioria dos países ocidentais.

Na Parte 1, uma nova introdução, assim como um capítulo entitulado “Falsidades Globais” foram introduzidos. Nessa primeira parte examinam-se também os impáctos do “mercado livre” e os direitos da mulher.

Na Parte 2 a respeito do sub-Saara da África, o capítulo da Ruanda foi expandido e actualizado depois da pesquisa de campo efetuada em 1996 e 1997. Dois capítulos novos, respectivamente a respeito da Fome na Etiópia e na África do Sul do pós-Apartheid também foram acrescentados. O capítulo sobre a Albânia na Parte 5, põe o foco no papel do Fundo Monetário Internacional em destruir a economia real assim como o de precipitar a falência do sistema bancário do país.

Uma nova Parte 6 entitulada “A Nova Ordem Mundial” inclui cinco capítulos.

O Capítulo 18 ressalta “o programa de ajustamento estrutural” aplicado nos países ocidentais abaixo da superintendência dos maiores bancos comerciais e mercantís do mundo. A atual crise econômica e financeira é revista nos capítulos 19 e 20 

O Capítulo 21 e o 22 examinam, respectivamente, o destino da Coréia do Sul e do Brasil nas ondas da fundição econômica de 1997-98, assim como a cumplicidade do Fundo Monetário Internacional em avançar os interesses dos especuladores dos mercados monetários e das bolsas de valores. 

Michel Chossudovsky é Professor de Economia da Universidade de Otawa no Canadá e Diretor do Centro de Pesquisa em Globalização, CRG, o qual é anfritrião da aclamada web site www.globalresearch.ca. Ele contribui para a Enciclopédia Britânica. Seus trabalhos foram traduzidos em mais de 20 linguas.

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